Percebo hoje que a intolerância anda prevalecendo ao bom senso, que a intolerância vem de um acúmulo de falta de representatividade, de respeito e de condutas antes toleráveis. Ao mesmo tempo muitas das queixas não fazem sentido, não se justificam ou estão embasadas em percepções pessoais. O difícil é ponderar e encontrar o fiel da balança.
Transportando para os negócios, podemos observar que ao mesmo tempo em que uma empresa usa um nome próprio para um determinado produto e cria desconforto para aqueles que se sentem ofendidos, há outra que usa da mesma estratégia e se torna hit.
Vamos exemplificar: no primeiro caso a propaganda do presunto Sadia e o não querido Luis Augusto. Inúmeros homens com este nome entraram com pedido no CONAR para suspensão da propaganda, sentindo-se ofendidos. No segundo a propaganda da US Top de 84 com o bordão “bonita camisa Fernandinho”, foi usada por anos até se desgastar naturalmente. Mas nenhum Fernando entrou no CONAR pedindo suspensão da propaganda (apenas lembrando que o personagem estampava uma pessoa um tanto quanto boba).
Recentemente uma marca de roupas famosa lançou uma coleção com imagens de uma obra de Debret – que representa a escravidão no Brasil nos áureos tempos. Algumas pessoas se indignaram com a proposta e a coleção foi retirada de circulação, adicionada a um pedido formal de desculpas pela empresa.
De propaganda de cerveja a lingerie, de alimentos a cosméticos, raramente não há ofendidos, defensores da moral e bons costumes, grupos segregacionistas, representantes de gêneros, grupos religiosos e mais uma infinidade de “representantes” das maiorias ou minorias, sejam elas quais forem.
Estes não são os primeiros e não serão os últimos casos a termos conhecimento. No mundo corporativo, não basta ser politicamente correto, o bom senso deve prevalecer e toda empresa deve pensar bem antes de lançar um produto no mercado, hoje muito mais sensível e ao mesmo tempo questionador e formador de opinião.
Apesar de questionável e por muitas vezes descabidas, as reclamações podem causar desgastes na imagem das empresas, o que acarreta perda de dinheiro, tempo e por vezes clientes.
Ao mesmo tempo, se o que ela acredita está estampado em seus produtos ou serviços, ela deve sim insistir, permanecer com seus valores e não abrir mão da relação que tem com seus consumidores, muito provavelmente onde seu sucesso está alicerçado.
Não vivemos num mundo fácil e simples, não há padrões imutáveis, modelos estáticos, pensamentos lineares. As empresas devem se adaptar aos novos tempos e saber no caos desta evolução aonde devem se posicionar e fazer a diferença. Uma tarefa hercúlea, diga-se de passagem.
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