Arquivo mensal: julho 2020

Será mesmo um Novo Normal?

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A expressão “novo normal” vem sendo exaustivamente usada, nos últimos meses, quando se percebeu que o coronavírus havia impactado de forma incontestável o mundo. A origem do termo não é recente e aparentemente vem de períodos pós-guerra, quando uma readequação da sociedade se faz necessária.

A verdade é que existem tendências sociais para este momento e dentre elas, a indiscutível democratização do digital e a consequente hiper conectividade.

Sabemos que categorias demográficas que, antes, por limitação econômica ou temporal, resistiam à virtualização de seu cotidiano, foram evidentemente convertidas. Da descoberta que a tecnologia facilita seus contatos afetivos a compras, encurtando distâncias e tempo, a tecnologia mudou hábitos e comportamentos, de todos, principalmente dos mais velhos.

Outro aspecto é a valorização do “local”. Quanto mais vizinho e mais conhecido melhor e pelo risco de contaminação, quanto menos deslocamento para as poucas coisas inevitáveis à sobrevivência, muito que bem. E, de quebra, ajudamos o comércio próximo e os micro e pequenos empreendedores a passarem por uma das maiores crises econômicas do país, ajudando-os a não fecharem suas portas (consumo consciente).

São muitas tendências projetadas ao “novo normal”, da ressignificação da casa ao trabalho home office, são muitas as mudanças que não ficaram na teoria, viraram prática. O que antes estava esquecido ou colocado em segundo plano, de repente precisou de novo olhar e se num primeiro momento foi obrigatório, no segundo mudou naturalmente, transformando algumas experiências e aprendizados em prazeres e hábitos, que vieram pra ficar.

Da mesma forma pensando no mercado e nos negócios, como estas mudanças vão impactar as empresas e os consumidores?

Se este atual consumidor já consome de maneira diferenciada produtos, serviços, notícias e conteúdos; está mais criterioso, cuidadoso, digital, coerente, questionador, econômico, voltado para a família e menos tolerante a cold calls e ao “consumir por consumir”, um estudo recente da McKinsey & Company listou as 10 mudanças de comportamento mais evidentes:

  1. O digital será onipresente
  2. O consumo será repensado
  3. A fidelidade e a infidelidade caminharão juntas
  4. O consumo será mais seguro
  5. Qualidade de vida é o que interessa
  6. Valorização do caseiro
  7. E mais confortável também
  8. Sustentabilidade será critério determinante
  9. Propósito importa, sim
  10. Metrópoles estão menos valorizadas

Ainda segundo a McKinsey, “empresas resilientes” se sustentam em três 3Rs, simultaneamente, para não ceder à crise:

  • Responder: quando elas garantem medidas apropriadas de resposta à crise e à continuidade da operação.
  • Retornar: quando elas gerenciam o período de crise e endereçam oportunidades para uma retomada mais saudável e rentável.
  • Reimaginar: como será o “novo normal”. – aqui acrescento por minha conta e risco, o Readaptar – quando elas mudam conforme os hábitos, necessidades e exigências dos consumidores e clientes.

Por último e não menos importante marcas e negócios precisam ter clareza de suas promessas e propostas de valor. Quem aspira seduzir e reter o “novo consumidor” – esta sim uma denominação adequada – terá de prestar contas de suas atitudes e valores. Se o que já era praticado e largamente falado no marketing como necessário para que as empresas se aproximassem dos seus consumidores e fidelizassem seus clientes, agora se tornou uma exigência e o olhar do consumidor muito mais atento.

Na minha percepção, além do que já estava acontecendo, as mudanças indicam uma aceleração do previsto, que já vinha sendo observado por estudos e pesquisas de mercado, ou seja, nada de tão novo assim, de forma geral, melhor dizer “validado”. Arrisco a defender que o “novo normal” não existe, o que existe é a descoberta que o poder da adaptabilidade é muito mais consistente, eficiente e eficaz neste momento; e que sim, há um novo consumidor surgindo desta nova temporada, ou seja, a velha e conhecida teoria de Darwin também vale para os negócios.

Concordam?

Leia também:

https://blog.betway.com/pt/cassino/mas-afinal-o-que-significa-o-novo-normal/

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

Não há mais tempo a perder

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Na semana passada um caso no mínimo assustador, foi o da senhora abandonada numa casa vazia por seus ditos “patrões”.

Não estou aqui para julgar, pois não sou profissional da área e não conheço os meandros da investigação, mas como a maioria da população posso me indignar pelo acontecido. A investigação continua e podem surgir novos fatos e até controvérsias, no entanto é inegável o descaso com a senhora e a desumanidade praticada pela família.

Porém meu artigo não é para provocar julgamento ou levantar revolta – apesar de ser quase impossível não tomar partido -, é sim para mostrar como, por outro lado, consumidores estão atentos e estão cobrando das empresas uma postura clara, rápida e direta.

Seja para que lado for, pelo o que defendem, pelas suas normas, regras ou estatuto, não cabe aqui discutir as políticas internas das empresas, mas cabe ao consumidor se pronunciar quanto as ações que ela toma frente casos como estes.

Este fato recente me lembra do caso da influencer Pugliesi, não pelo ato, mas pela consequência. Muitos seguidores, no caso dela ficaram indignados com sua atitude de fazer uma festa em momento de isolamento social e mediante uma atitude de irresponsabilidade, estes seguidores e consumidores se voltaram às marcas que mantinham contrato com ela, para que se posicionassem e deixassem de mantê-la como “garota propaganda” de seus produtos, caso contrário a maioria deixaria de consumir estas marcas. A consequência foi que ela perdeu inúmeros contratos, entre outras penalidades. Isto em pequeno espaço de tempo!

Estamos na era onde praticamente nada fica escondido do público, além das redes sociais, há profissionais que vivem de falar de pessoas, para o bem ou para o mal, além da própria população que acompanha estas pessoas nas diversas mídias. Não há como se manter no anonimato, principalmente se for influencer, celebridade, sub celebridade….basta ser figura pública.

Apesar de motes diferentes, nos dois casos em questão estamos falando de uma área que geralmente existe em grandes empresas, a área de Compliance.(*)

Esta área trouxe luz aos problemas que podem ocorrer numa empresa e suas consequências desastrosas, tanto interna como externamente, portanto embasados neles tomar decisões que posicionem a empresa no mercado.

No caso de gerente Mariah da Avon, por ser uma empresa séria e alinhada ao seu Compliance, o caso não terminou bem, não só pela força do consumidor que cobrou fortemente nas mídias um posicionamento da empresa – que por sua vez não pode atender a demanda simplesmente porque vem à tona uma informação que ainda está em processo de investigação -, mas diante dos fatos colhidos pelos órgãos competentes, não houve outra alternativa a não ser demiti-la.

Independente dos consumidores ficarem 50% satisfeitos, pois a história não acabou e a investigação prossegue e ainda pode haver desdobramentos, a empresa tomou uma atitude rápida e se posicionou, dando o recado que este tipo de acontecimento não será aceito.

A Avon enviou um comunicado informando que demitiu a colaboradora e reforçou o compromisso com os direitos humanos: “Com grande pesar, a Avon tomou conhecimento de denúncias de violações dos direitos humanos por um de seus colaboradores. Diante dos fatos noticiados, reforçamos nosso compromisso irrestrito com a defesa dos direitos humanos, a transparência e a ética, valores que permeiam nossa história há mais de 130 anos. Informamos que a funcionária não integra mais o quadro de colaboradores da companhia. A Avon está se mobilizando para prestar o acolhimento à vítima”.

Pelo que se pode perceber foi além, ainda se predispôs a prestar auxílio à vítima, uma sensibilidade pela situação e a prática de sua missão. Com 134 anos de existência a Avon criou sua marca e seu valor baseado em sua missão: ser líder global em beleza; a marca de escolha das mulheres; a líder em vendas diretas; o melhor lugar para se trabalhar; a maior Fundação para as mulheres e a empresa mais admirada.

São estas atitudes que fazem a marca ter valor e realmente ser reconhecida por ele.

Portanto uma atitude que deve ser tomada independente do tamanho da empresa ou a quem se destina a decisão, o que é certo é certo, não há mais espaço para erros.

 

Imagem de nile por Pixabay

https://www.avon.com.br/institucional/a-avon

(*)http://www.ibdee.org.br/compliance-no-brasil-e-suas-origens/

https://revistamarieclaire.globo.com/Noticias/noticia/2020/06/avon-demite-mulher-que-manteve-idosa-em-estado-analogo-escravidao.html

https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/06/26/avon-afasta-executiva-que-mantinha-idosa-em-situacao-analoga-a-escravidao.htm?fbclid=IwAR3ViYn_lHEPZZeE0D5QaqAIU5vTPi0jhuCblTpaDlbH7ZspVfeDndgShUg